terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Pelé, versão feminina


Ontem a FIFA realizou seu evento anual de premiação dos melhores jogadores da temporada, o FIFA World Player Gala 2008. Foram divulgados os melhores do mundo no futebol masculino e feminino, futebol de areia e futsal. E em todas as categorias quem brilhou foi a Última Flor do Lácio. Pela primeira vez na história da premiação, todos os agraciados falam a nossa língua pátria. O português Cristiano Ronaldo e a brasileira Marta venceram no futebol, o português Madjer venceu na areia e o brasileiro Falcão papou o premio do futsal.

Todos conforme previsto. Falcão e Madjer já estavam escolhidos. Tanto no futsal quanto no futebol de areia, o melhor da temporada em anos de Copa do Mundo é o melhor da Copa. No futebol também não houve surpresa, apesar do clima de suspense que tentaram criar. Pelo menos nestas últimas os vencedores saíram de uma votação baseada em toda a temporada e não apenas pela atuação em uma competição. Entre os homens, Cristiano Ronaldo obteve a expressiva pontuação de 935, contra 678 do argentino Lionel Messi, segundo colocado, 203 do espanhol Fernando Torres, o terceiro, 183 do brasileiro Kaká, o quarto e 155 do também espanhol Xavi Hernandez.

Mas o objetivo do post não é falar de Cristiano Ronaldo, Madjer ou Falcão, todos merecedores dos prêmios. Nem de Lionel Messi, apontado por muitos como já merecedor do título. Tampouco de Kaká, o melhor do mundo na minha opinião (mas que realmente teve uma temporada mais fraca que Messi e Cristiano).

Fico impressionado quando vejo a Marta em ação. É incrível a diferença técnica entre ela e todas as demais jogadoras de futebol profissional feminino no mundo inteiro. E a diferença acabou registrada em votos: Marta levou o prêmio com incríveis 1.002 pontos, ficando muito à frente da alemã Brigitte Prinz (328), da conterrânea Cristiane (275), da goleira alemã Nadine Angerer (198)e da inglesa Kelly Smith (150). Um verdadeiro massacre.

Infelizmente não tive o prazer de ver o Pelé jogar ao vivo. Vi alguns tapes, muitos "melhores momentos" e documentários, principalmente Isto é Pelé e Pelé Eterno. Mas não é o suficiente para captar todo o potencial do maior jogador da história. Já com Marta está sendo diferente. Vi todos os jogos das Olimpíadas de Atenas e Pequim, assim como a Copa do Mundo de 2007, na China, e alguma coisa do Mundial sub-20 de 2004, na Tailândia.

Marta levou o prêmio de melhor do mundo pela terceira vez seguida, empatando com Prinz como as maiores vencedoras da história. Ficou ainda em terceiro em 2004 e segundo em 2005. E tem apenas 22 anos. Salvo se alguma jogadora evoluir muito (ou Marta se contundir seriamente), não vejo motivo para ela perder o posto pelos próximos cinco anos, no mínimo, tamanha a diferença técnica entre ela e as demais mortais. Cristiane e Prinz fariam um duelo de foices pelo prêmio, se o mesmo fosse dado apenas a jogadoras deste planeta.

Mas nem tudo são flores no futebol feminino brasileiro. Uma coisa me preocupa bastante. Estamos desperdiçando a oportunidade que temos de ver um segundo Pelé em ação. A situação do futebol feminino é lamentável, totalmente indigno de Marta, Cristiane e de todas as outras guerreiras que envergam a camisa amarela e defendem o país mundo afora. Não existe calendário, competições oficiais, nada. A CBF parece ignorar as meninas e, até por conta disso, os clubes também. Em 2008, depois de duas pratas olímpicas e uma mundial, resolveu fazer uma Copa do Brasil. Juntou 32 times, num campeonato que não durou nem um mês. Fora isso, somente ações isoladas de alguns abnegados.

Marta, pessoalmente, não tem do que reclamar, pois será a estrela do campeonato profissional que os EUA estão remontando em seu país. Cristiane também vai jogar lá, assim como Prinz e outras estrelas mundiais. Mas ela, apesar de tão nova, tem ciência da responsabilidade de ser a craque do país do futebol (masculino) e tornou-se uma espécie de porta-voz do futebol feminino no Brasil. A menina de origem humilde, nascida no interior de Alagoas, hoje é a estrela do futebol mundial. Foi por causa dos resultados de Marta e de suas companheiras que o Brasil passou a prestar mais atenção no futebol feminino.

Já desperdiçamos Gustavo Kuerten no tênis. Fizemos o mesmo com Oscar no basquete. Será que Marta não poderá deixar um legado para um séquito de seguidoras? Ou, pior, será que o legado dela será aproveitado pelas americanas? Deixo então uma pequena mostra do talento da Marta, para que os dirigentes pensem no que estão fazendo.


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