quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Sucateamento das categorias de base

Em tempos de futebol de férias, mais uma vez o Flamengo gera motivo para um texto no Arquiba. E novamente o motivo não é bom. A última da diretoria rubro-negra foi a demissão do Adílio do cargo de técnico do time de juniores do clube. Depois de quatro temporadas ganhando vários títulos, o ex-craque foi demitido por passar a temporada de 2008 em branco. No período em que ele esteve à frente do time, o Flamengo conquistou o tricampeonato estadual, o bi da Copa OPG, foi campeão das Taças BH e Rio-São Paulo, além de ter ficado em terceiro no Mundial Sub-19, na Malásia. O maior expoente da geração de Adílio foi o meia Renato Augusto, vendido no meio do ano para o Bayer Leverkusen, da Alemanha. Adílio será substituído por Rogério Lourenço, ex-zagueiro do Flamengo, técnico dos juvenis e da seleção brasileira sub-20.

Minha primeira reação ao saber da notícia foi de tristeza. Cresci vendo a geração fantástica de Zico, Adílio e Junior ganhar tudo, contra todos. Tinha um carinho especial pelo Brown, herói da conquista do tricampeonato brasileiro de 1983, primeira final de Brasileiro que lembro de ter visto ao vivo. Adílio foi o melhor em campo naquele dia. Depois que Zico e Junior foram vendidos e o supertime desmontado, Adílio permaneceu lá, mesmo em períodos de vacas magras. Nunca me esqueço de um Flamengo x Bangu que o time suburbano deu uma coça de 6 a 2 e Adílio formou o ataque (isso mesmo!) com Robertinho e Peu. Se jogasse em qualquer time razoavelmente decente na Europa, Adílio seria até nome de praça na cidade. Mas no Flamengo tem este destino.

Achei a demissão de Adílio injusta. O Flamengo se desfez de diversos jogadores em 2008. Vendeu Michel, Pedro Beda e Anderson Bamba, emprestou Fabricio e Camacho, além de ter promovido aos profissionais Erick Flores e Paulo Sérgio. Desmontaram o time do Adílio e colocaram a culpa no técnico no fim das contas.

Mas o grande problema desta história, para mim, é outro. O Flamengo virou celeiro de títulos nos juniores, mas parece que esqueceu que o principal motivo da base é revelar bons jogadores. Isso tem ficado raro no Flamengo. E é inaceitável, pois o clube tem as maiores peneiras do futebol brasileiro. Na quantidade maior TEM que se tirar qualidade maior. Título nos juniores não vale de quase nada.

O presidente do clube fala muita abobrinha, mas num ponto tem razão. O Flamengo sempre foi forte quando contava com pratas da casa. O time que acabou o Campeonato Brasileiro de 2008 só tinha o Ibson de prata da casa entre os titulares. Nem vamos recorrer à geração campeã mundial. Se compararmos com a geração campeã da Copa São Paulo de 1990, já é de dar pena. Aquele time tinha Djalminha, Marcelinho Carioca, Junior Baiano, Marquinhos, Rogério (o que acaba de substituir o Adílio), Nélio, Paulo Nunes, Fábio Augusto, Piá. Todos faziam parte do elenco pentacampeão brasileiro em 92, vários eram titulares. Muitos viraram ídolos de outros times depois de negociados. Se tirarmos o Piá e o Rogério, foi uma geração com seis grandes jogadores e um craque em apenas uma fornada.

Nos tempos atuais o Flamengo traz da base jogadores como Jean, um atacante que tem sérias dificuldades de finalização e é conhecido por não saber fazer gol. Revela Rômulo, volante que acerta passes de forma bissexta. Revela Thiago Salles, zagueiro que fica conhecido por fazer gols e não por evitá-los. Revela Diego, goleiro com imensa deficiência em chutes de longa distância, chamado ironicamente pela torcida de Horácio, pelos braços curtos. Se o Flamengo entrar no Brasileiro apenas com pratas da casa do atual elenco, corre o risco de disputar rebaixamento de novo.

De 10 anos para cá o Flamengo revelou Julio Cesar, Adriano, Juan, Athirson, Ibson, Jônatas e Renato Augusto. Mesma quantidade de jogadores com qualidade da geração de 1990. Para uma década inteira, num clube como o Flamengo, é muito pouco. Tem muita coisa errada no Flamengo...

PS: Usei o Flamengo como exemplo, mas o problema acontece em praticamente todos os grandes clubes brasileiros, senão em todos.

2 comentários:

Chã, Patinho & Lagarto disse...

Cada hora tu fala uma coisa. mas no fundo tu ta concordando com boa parte do q eu falei no grupo.

Alexandre Matos disse...

Em momento algum eu mudei minha opinião ou falei algo diferente. Talvez vc nao tenha entendido o q eu disse em outros momentos (talvez não, certamente).