sexta-feira, 3 de outubro de 2008

É muita onda!


Quantos eneacampeões mundiais você conhece? Ué, você nem sabe o que é isso? Não se preocupe, certamente não é o(a) único(a). É tão raro ver alguém nove vezes campeão mundial de alguma coisa que o termo é usado de vez em nunca. De cabeça, pensando um pouco melhor, não lembro de nenhum eneacampeão mundial em nenhum esporte. Eneacampeões mundiais não são vendidos na feira. Mas hoje, em Mundaka, na Espanha, o surfista Kelly Slater fez a palavra sair dos confins do dicionário, levando-a para as manchetes de todos os jornais do mundo.

E isso porque o americano estaria desmotivado com a carreira. Campeão mundial mais jovem da história do surfe, aos 20 anos em 1992. Em 1996, ganhou 7 etapas do circuito e igualou o recorde de Tom Curren (outra lenda do esporte e herói de infância de Slater) e Daniel Hardman. Pentacampeão mundial, tornou-se o surfista com maior número de títulos. Hexacampeão, resolveu abandonar a carreira, de saco cheio de viajar e vencer. Foi curtir a vida: namorou Pamela Anderson, Cameron Diaz e Gisele Bündchen. Virou videogame, quando a Activision lançou o Kelly Slater's Pro Surfer em 2002. Cansou da vida de aposentado e voltou ao circuito.

E como tudo que faz na vida, voltou passando o rodo: destronou Andy Irons em 2005-2006, conquistando o hepta e o octa. Em 2005, na bateria final de Teahupoo, no Taiti, tornou-se o primeiro a alcançar uma bateria perfeita, ao receber duas notas 10. Deu uma chance para o australiano Mick Fanning em 2007, talvez para não desmotivar os adversários. E em 2008...

Slater resolveu estraçalhar em 2008. Surrou o atual campeão mundial Fanning em Jeffrey's Bay, África do Sul, ao fazer na final 16,73 x 9,40. Na final da etapa de Lower Trestles, na California, ficou em combinação contra Taj Burrow, que também lutava pelo título mundial. Precisava trocar suas duas notas por uma soma de 18,64. Mas o que acontece quando coloca-se um mito como Slater pressionado contra a parede? Faltando 1min07s para o fim, tirou um 9,27 da cartola, aplicou uma virada sensacional, fez 18,97 x 18,63 e papou a etapa. A Burrow, restou se conformar: "É meio frustrante sentar lá atrás e ver a onda que ele pegou". Ganhou 5 das 7 primeiras etapas e chegou na França podendo se tornar o campeão mundial com maior antecedência da história. Perdeu a final para Adrian Buchan. Ameaçou não disputar a etapa de Mundaka, a mais temperamental das ondas do circuito, onde quebra menos de 10% dos dias do ano. Slater acha que Mundaka não tem mais nível para sediar uma etapa do circuito.

Mudou de idéia e caiu na água. Precisava apenas de uma nona colocação, na nona etapa, para garantir o nono título mundial. Chovia granizo em Mundaka! Slater caiu na água e o sol apareceu, de surpresa. Bastava vencer a bateria contra o local Eneko Acero. E assim foi feito. Slater saiu da água eneacampeão mundial (a foto abaixo não é uma gozação ao Presidente do Brasil), conquistando o título com a maior antecedência da história e tornando-se o surfista mais velho a se tornar campeão mundial, aos 36 anos. Junto com o campeão, foi embora o sol, que aparecera apenas para presenciar a história sendo escrita. O cara desmotivado não pára de ganhar, não pára de bater recordes. Voltar em 2009 virou praticamente uma obrigação. Não consegui fugir do trocadilho do título do post.

Que venha o decacampeonato. E o undeca, o duodeca... Vamos correr para os dicionários, pois Kelly Slater não tem limites.


Um comentário:

Chã, Patinho & Lagarto disse...

Na próxima o Lula não pode mais contar.