domingo, 21 de setembro de 2008

Estilo brasileiro ameaçado - Parte I


Hoje o jornal O Globo começou uma série de reportagens sobre um assunto que está diante de nossos narizes, mas nem todos ainda percebemos: o futebol brasileiro está perdendo sua identidade. Segundo reportagem de Mauricio Fonseca e Carlos Eduardo Mansur (antigo companheiro de estádios atrás do Flamengo, ele a trabalho, nós torcendo, e amigo do Barretto, com quem estudou no Colégio Franco-Brasileiro), a saída de jogadores cada vez mais jovens para o exterior tem feito com que o estilo brasileiro seja substituído pelo estilo mecanizado dos europeus. A reportagem é excelente e vai continuar nos próximos domingos. Trago a discussão aqui para o nosso humilde espaço.

O Brasil é o único país que tem um estilo único de jogar futebol. Talvez a Argentina também tenha um, mas não tão característico como o nosso jogo, de dribles, de lances plásticos, de improviso. Mas, ao sairem tão jovens do Brasil, estes jogadores ainda não têm o estilo brasileiro consolidado. Ao serem inseridos no modelo mecanizado europeu de formação, perdem o diferencial e a maioria acaba nem se destacando por lá. Por este motivo, não servem para o futebol europeu de alto nível e acabam voltando para o Brasil com a carreira praticamente perdida, pois precisam novamente se adaptar ao estilo brasileiro, que nem chegaram a adquirir por completo. O zagueiro Adaílton, do Santos, é um exemplo. Foi muito jovem para a Europa, não se firmou e voltou. Aqui, perdeu o tempo de bola do futebol brasileiro e se tornou um zagueiro constantemente mal colocado e atrasado, que precisava apelar para o pontapé.

Outro caso que merece estudo é o de Anderson, jogador do Manchester United. Saiu do Grêmio como um meia-atacante tipicamente brasileiro, que tinha no drible sua principal arma. Virou volante no time inglês. Quando é convocado pelo técnico Dunga, é utilizado mais adiantado e não consegue render o que dele se espera. Os gêmeos Rafael e Fábio, ex-Fluminense, que foram para o Manchester United sem sequer completar 17 anos, seguem pelo mesmo caminho. Na Inglaterra, laterais são defensores antes de apoiar o ataque. Por este motivo, Rafael tem tido mais chances do que o irmão, por ser mais marcador. O mesmo que acontece com o também lateral Marcelo, também ex-Flu, que no Real Madrid não tem mais o ímpeto ofensivo que chamou atenção do Brasil em 2007. Os clubes europeus lucram, talvez os jogadores também. Quem perde é o futebol brasileiro.

Alguns jogadores são convocados para a seleção principal sem sequer ter uma história em clubes brasileiros. Um caso destes é do lateral Maxwell, que disputou os Jogos Olímpicos de Pequim. Defende a Internazionale de Milão e duvido que alguém saiba onde jogou antes. Pois ele atuou por 5 temporadas no Ajax, da Holanda e uma no Cruzeiro. Daqui a seis anos, alguém vai lembrar de Marcelo no Fluminense, Breno no São Paulo, Rafinha no Coritiba? Um dos reflexos deste êxodo prematuro é a perda da identidade da Seleção Brasileira com a torcida, pois o que move os torcedores é ver seus ídolos defendendo a seleção. Se quase nenhum deles chegou a ser ídolo no Brasil...

O presidente da FIFA, Joseph Blatter, já fez seu alerta apocalíptico: "O Brasil vai acabar sendo batido por ele mesmo se continuar exportando tantos jogadores. Eles vão se naturalizar e um dia todas as seleções do mundo jogarão apenas com brasileiros". E que ninguém pense que Blatter está exagerando. Tomemos o caso da seleção italiana de futsal, esporte mais praticado no Brasil. Dos 14 convocados para o Mundial de 2004, simplesmente 12 eram brasileiros naturalizados. O resultado da experiência não foi bom para a seleção brasileira. A Itália acabou vice-campeã mundial, ao perder a final para a Espanha, que também tem brasileiros no elenco (não tantos). O Brasil terminou em terceiro. Na última Eurocopa, vimos Marcos Senna ser campeão pela Espanha, Deco e Pepe atuando por Portugal, além de Roger na Polônia e Mehmet Aurélio, na Turquia.

(continua na parte II)

Um comentário:

Chã, Patinho & Lagarto disse...

Tomara que não "inglaterrize" o futebol brasileiro! hehehe