quarta-feira, 9 de julho de 2008

O que fazemos com nossos atletas?

Vejo consternado uma notícia publicada no site Globoesporte.com, sobre turbulência vivida pela ginasta Jade Barbosa com a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG). A reportagem diz que Jade não recebe os salários da CBG desde janeiro (!!!), tampouco do Flamengo, clube que ela defende. O pai da ginasta disse que a CBG fez uma proposta de R$350,00 reais por mês, mais bônus, desde que ela faça oito comerciais para o patrocinador da confederação.

Sim, você não leu errado. A CBG ofereceu menos que o salário mínimo vigente no país, que é de R$415,00 (de acordo com Medida Provisória nº 421/2008, de 29/02/2008)!!!

A Jade não é uma atleta qualquer (como se algum atleta fosse merecedor de descaso e desrespeito). Ela foi medalha de bronze no individual geral no Campeonato Mundial de 2007, que inclusive ainda era Pré-Olímpico. Ou seja, foi um Mundial de nível técnico elevadíssimo. Além disso, conquistou medalhas nos Jogos Pan-Americanos de 2007. Tudo bem que o Pan é a oitava divisão das Olimpíadas, pois além de a maior parte dos países ser de péssimo nível técnico, os EUA não mandam suas equipes principais. Mas nem todos os esportes são assim e a Ginástica Artística é um exemplo. Não raro vemos campeãs mundiais e olímpicas disputando o Pan. O do ano passado foi especial porque era preparatório para o Mundial. Ou seja, as conquistas da Jade realmente são notáveis.

Mas se o dito aqui até agora já seria suficiente para deixar com raiva qualquer amante do esporte, nada é tão ruim que não possa piorar. O pai da Jade tem estado preocupado inclusive com a saúde da filha. A atleta não tem um seguro de saúde pago pela CBG. Se ela se machucar nos treinamentos ou na disputa dos Jogos, não há um responsável. E quem já viu alguma vez uma competição de Ginástica Artística sabe que as chances de uma contusão séria em qualquer dos aparelhos é imensa.

O pai da ginasta só aceita o fato de ela treinar no CT de Curitiba pois acha que assim terá maiores chances de medalha, por treinar com o ucraniano Oleg Ostapenko, técnico da seleção brasileira permanente. Se não fosse isso, o pai já tinha mandado Jade de volta para o Flamengo. Ele ainda diz que a menina tem estado emburrada. Será que ela tem razão? =(

Pra fechar com chave de lata, Jade tem um irmão mais novo, que treina no Flamengo, considerado por quem entende do assunto como uma grande esperança para a Ginástica masculina. Dizem que Pedro Barbosa, de 11 anos, tem o talento da irmã (que não é pouca coisa). Mas o pai, diante do quadro desolador da filha mais velha, pensa em não permitir que o garoto continue na carreira. Ele sai do trabalho às 16:00h para levar Pedro para treinar no Flamengo, chegando em casa muito tarde todos os dias, numa rotina cansativa.

Este é o retrato lamentável dos esportes no Brasil. Quando só vemos a Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro de Futebol não temos idéia de como é dura a vida de um atleta no Brasil, até mesmo os de altíssimo nível, como a Jade Barbosa. Enquanto ela dá ao país o sacrifício da foto abaixo, é retribuída assim. E um país desses ainda tem a desfaçatez de querer sediar Olimpíadas e Copa do Mundo...

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