terça-feira, 11 de novembro de 2008

É tão difícil dar um jeito no esporte brasileiro?

Na sexta-feira, 07/11, o Comitê Olímpico Brasileiro se reuniu para decidir a distribuição da verba obtida pela Lei Agnello/Piva, que destina parte arrecadada pelas loterias às confederações e ao próprio COB. Os dirigentes aplicaram algo próximo à meritocracia: quem teve melhores desempenhos ganham mais; desempenhos fracos levam menos. Meritocracia na gestão empresarial é um fator benéfico, premia bons resultados. Mas no caso dos esportes...

A primeira conclusão óbvia que chego é que, deste modo, esportes menos "abastados" jamais deixarão de sê-lo, criando uma bola de neve e aumentando a desigualdade da distribuição de renda (100% Brasil, não?). Pelo que eu entendo, os recursos da lei deveriam ajudar as confederações. Por ajudar entenda-se prestar auxílio a quem precisa. Se o vôlei é o principal esporte brasileiro em termos de resultados (mais até que o futebol, que não entra neste bolo), então é o que mais vai receber da Lei. Mas tem um detalhe: o vôlei é um esporte que está na mídia o tempo inteiro. Por este motivo, além dos resultados, tem maior facilidade de captar recursos por conta própria, como a excelente parceria com o Banco do Brasil, por exemplo. Ou seja, não devia precisar de muito dinheiro retirado do erário.

Esportes como vôlei, judô, natação e atletismo estão o tempo inteiro na mídia. E não só na TV paga. A Rede Globo, por exemplo, transmite vários eventos destes esportes ao vivo. Seja Superliga, etapas da Copa do Mundo de Judô e Natação, Troféu Brasil, etapas do Grand Prix e Golden League de Atletismo, sem contar com Meia-Maratona do Rio, Maratona de São Paulo...

Em contrapartida, temos confederações como a de Remo, que vai ter corte de mais de R$200.000,00, que levou o presidente da CBR a anunciar que deverá demitir funcionários, para se adequar ao novo orçamento. E disse ainda que só deverá mandar equipe para Londres, em 2012, se tiver chance de medalha. Como isso é missão hercúlea, provavelmente não teremos remadores nos próximos Jogos Olímpicos. E se não disputaremos competições importantes, de alto nível internacional, não evoluiremos os atletas e o esporte e, assim sendo, menos dinheiro entrará na CBR. E a bola de neve está formada. Vale dizer que o remo é um dos esportes mais antigos e tradicionais do Brasil, mais antigo que o futebol. Flamengo e Vasco, por exemplo, nasceram do remo.

Um caso à parte é o basquete, esporte que vai sofrer o maior corte dentre as 28 confederações afiliadas ao COB. Bem feito! Castigo para um esporte que vem sendo pessimamente administrado. O basquete brasileiro está definhando nas mãos do presidente Gerasime Bozikis, o Grego. Aquele que era o segundo esporte brasileiro não vai aos Jogos Olímpicos há três edições no masculino, que já fora bicampeão mundial e duas vezes bronze olímpico. O feminino, campeão mundial em 94 e prata olímpico em 96, segue pelo mesmo caminho. A CBB vai receber menos verba do que as confederações de handebol, vela e motor e tênis de mesa. Vai receber o mesmo que a canoagem, ciclismo, hipismo e remo. E, obviamente, muito menos do que as de vôlei, ginástica, judô, desportos aquáticos e atletismo, esportes com tanta visibilidade quanto o basquete, mas com resultados infinitamente superiores.

O dinheiro saído dos cofres públicos devem ser muito bem administrados. Entregar dinheiro para quem não precisa tanto, em detrimento de outros mais necessitados, no meu entender, é o mesmo que pagar a Bolsa Família para mim em detrimento de uma família pobre de Várzea Branca, no interior do Piauí. O ciclo olímpico de Pequim foi o primeiro a ser completado com os recursos das leis (Agnelo/Piva e incentivo fiscal). E qual foi a evolução? A mesma quantidade de medalhas de Atlanta? Menos medalhas de ouro do que Atenas? Ou maior quantidade de finais disputada? Quantos projetos sociais (inclusive para descobrimento de novos talentos) as confederações e o próprio COB mantém? Estamos realmente fazendo bom uso da verba pública?

Veja o caso da Grã-Bretanha: em Atenas ficou em 32º lugar no quadro de medalhas (atrás do Brasil, inclusive). Implantaram uma lei parecida com a nossa. O resultado? Potência olímpica em Pequim. Passou de 15 medalhas em Atlanta para 40 em Pequim. O Brasil ganhou 15 em Atlanta, 12 em Sydney, 12 em Atenas e 15 em Pequim. Um avanço pífio.

Além da meritocracia, que não deve ser abolida, alguns pontos deveriam ser levados em consideração na hora de distribuir a renda. A facilidade de captar recursos externos, por exemplo. E para implantar a meritocracia, é necessário estabelecer quais metas devem ser alcançadas por cada confederação (como feito na Grã-Bretanha). E isso o COB não faz. Não adianta jogar o dinheiro ao léu. O COB não é exatamente exemplo de lisura e transparência. A última eleição, vencida pelo atual presidente, foi feita "às escuras", num fato combatido em todos os meios de imprensa. Além disso, o próprio COB recebe parte da verba oriunda das leis. E 30% (!!!) do que recebe é torrado em "manutenção interna". O próprio COB fiscaliza o uso do dinheiro. Na Grã-Bretanha, um órgão ligado ao Governo Federal, que existe exclusivamente para este fim (a UK Sports), faz a fiscalização.

O anúncio final da distribuição das verbas será feito no dia 3 de dezembro.

2 comentários:

Grgr disse...

Excelente post! Parabens!

Alexandre Matos disse...

:)